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quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Sua Memória Digital Está em Risco: 4 Verdades Surpreendentes Sobre a Preservação de Documentos

https://youtu.be/C3EPYz1N7f8


Palavras iniciais

Todos nós produzimos um volume crescente de documentos, fotos e memórias que vivem exclusivamente em formato digital. De contratos importantes a registos familiares, confiamos os nossos dados a discos rígidos e servidores, acreditando que estarão seguros para sempre. No entanto, o ambiente digital é inerentemente frágil e instável. Diferente do papel, um ficheiro digital pode ser facilmente alterado, duplicado ou perdido sem deixar vestígios. A obsolescência tecnológica ameaça constantemente tornar os nossos ficheiros inacessíveis, transformando informações valiosas em dados ilegíveis. Este artigo revela algumas verdades surpreendentes e contraintuitivas do mundo da arquivologia digital sobre o que realmente significa preservar a nossa informação de forma autêntica para o futuro.


Para Salvar, é Preciso Mudar: O Paradoxo da Preservação Digital

Preservar um documento físico é como proteger uma borboleta numa caixa de vidro: o objetivo é mantê-lo intocado. No mundo digital, a lógica é o exato oposto. Preservar um ficheiro digital é como garantir a sobrevivência da espécie inteira da borboleta — exige evolução gerida, migração para novos habitats e adaptação constante. Para que um documento digital permaneça autêntico e acessível a longo prazo, é necessário alterá-lo. A preservação digital requer ações ativas, como a migração de ficheiros para novos formatos e a transferência de dados para novos suportes de armazenamento, a fim de combater a inevitável obsolescência de hardware e software. Estas constantes e controladas mudanças são precisamente o que deve ser meticulosamente rastreado na "Cadeia de Custódia" do documento para provar que este não foi maliciosamente alterado.

Observa-se que para preservar a informação digital há necessidade de alterá-la, bem como ponderar sobre o impacto de tais alterações.

Portanto, a estratégia de "deixar quieto" é uma sentença de morte para os dados.

A Preservação Começa Antes Mesmo de o Documento Existir

Outra ideia equivocada é que a preservação é algo que fazemos no final, quando um documento não é mais usado ativamente. Na realidade, uma estratégia de preservação digital eficaz não é um passo final, mas uma fundação que deve ser estabelecida antes mesmo de o documento ser criado. Esta abordagem proativa é o coração do modelo Records Continuum, que encara a preservação não como uma etapa final, mas como um processo contínuo tecido na existência inteira do documento. Isto significa projetar sistemas de negócios que capturem os documentos e os seus metadados de forma estruturada, garantindo que estes nascem como evidências confiáveis e que o sistema possui "requisitos semelhantes aos utilizados por um sistema de gestão arquivística".

As ações de preservação de longo prazo já devem ser planejadas antes mesmo da produção dos documentos.

As organizações que ignoram esta etapa inicial estão, na prática, a projetar a futura perda da sua própria memória institucional.

A Confiança Digital é uma Corrente Ininterrupta, Não um Cofre Fechado

Como podemos confiar que um documento digital hoje é o mesmo que foi criado anos atrás? A resposta não está em trancá-lo num "cofre" digital. Um cofre implica segurança estática, enquanto a confiança digital é dinâmica e processual. A verdadeira garantia reside numa "Cadeia de Custódia" ininterrupta. Pense nisto como o histórico completo e auditável de um documento, semelhante à cadeia de provas num caso legal. Quem o criou? Quem o acedeu? Foi migrado para um novo formato? Cada um desses eventos é um elo da corrente. Se um elo estiver em falta ou quebrado — como acontece pela ausência de plataformas interoperáveis entre um SIGAD (Sistema Informatizado de Gestão Arquivística de Documentos) e um RDC-Arq (Repositório Arquivístico Digital Confiável) — a confiança perde-se e a autenticidade do documento é posta em causa.

A cadeia de custódia consiste em uma linha ininterrupta ou contínua de custodiadores, iniciada pelo produtor até seu legítimo sucessor, assegurando que os documentos permanecem autênticos desde a produção (BRASIL, 2012).

Qualquer lacuna nesta cadeia não é apenas uma falha processual; é um risco existencial para a credibilidade da informação.

Diga Adeus ao "Ciclo de Vida" e Olá ao "Continuum"

O modelo tradicional de "ciclo de vida" trata um documento como um objeto que nasce, é usado e depois morre (ou é arquivado permanentemente). Esta visão linear não se adapta à fluidez do ambiente digital. Uma abordagem mais moderna e eficaz é o modelo Records Continuum. Este modelo trata o documento como um organismo vivo dentro de um ecossistema, interagindo continuamente com pessoas e sistemas, sendo cuidado e evoluindo ao longo do tempo, em vez de passar por fases estanques. Não há uma separação rígida entre as fases, e as ações de preservação são realizadas de forma proativa ao longo de todo o percurso do documento. Esta abordagem holística mostra-se mais eficaz para contornar os entraves da obsolescência e agrega uma visão integrada das atividades arquivísticas, garantindo que os documentos permanecem vivos, autênticos e relevantes. Adotar a mentalidade do "Continuum" não é apenas uma atualização técnica; é uma mudança estratégica fundamental para garantir a relevância e a fiabilidade da informação a longo prazo.

Nossa Memória Digital Exige Cuidado Ativo

A preservação da nossa herança digital não é uma ação passiva de "guardar para depois". É um processo ativo, contínuo e estratégico. A mentalidade de "Continuum" (Ponto 4) exige que a preservação seja planeada desde o início (Ponto 2). As ações de preservação ativas, como a migração de formatos (Ponto 1), devem ser meticulosamente registadas numa "Cadeia de Custódia" ininterrupta (Ponto 3) para garantir a autenticidade ao longo do tempo. A interdependência destes princípios é a única forma de enfrentar as vulnerabilidades inerentes ao mundo digital e garantir que a nossa memória permaneça intacta.

Diante da complexidade do nosso mundo digital, como podemos garantir que as evidências de hoje permanecerão autênticas para as gerações de amanhã?


Artigo completo no link:

AMBIENTES DIGITAIS CONFIÁVEIS PARA PRESERVAÇÃO HOLÍSTICA DE DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS

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